Pintura Orgânica
Desde que me iniciei no trabalho artístico, sempre busquei a criação da “não-forma”, ou seja, o fluir da cor no papel, no tecido ou na tela, conduzida pelo desejo, quase primitivo, de me surpreender, improvisando continuamente. Através da PINTURA queria revelar, descobrir e não dominar a habilidade de espelhar formas existentes. Segundo Kandinsky, um artista que eu admiro muito e considero um dos meus mestres, existem três gêneros de expressão pictórica: as COMPOSIÇÕES, as IMPRESSÕES e as IMPROVISAÇÕES. Para ele, as improvisações são de natureza interior, surgem do inconsciente e formam-se subitamente... Escolhi, mesmo antes de conhecer este conceito de Kandinsky, as improvisações, como caminho para me expressar artisticamente, apesar de representarem um grande desafio, pois nem sempre me sinto receptiva a elas e capaz de criar imagens significativas desta forma. Entretanto, fui desenvolvendo, ao longo do tempo, um estilo visual particular que em certo momento, decidi denominar: “orgânico”, uma palavra que cabia e parecia simbolizar muito bem as formas que surgiam a partir dos meus gestos nos vários suportes que experimentava. Em sua origem etimológica, orgânico, é tudo o que é vivo, natural, arraigado profundamente, fundamental. Busco na ARTE este pulsar básico da vida, que é espontâneo, primitivo e incessante. A “arte orgânica”, para mim, é toda aquela que flui do que é instintivo em nós, driblando sem cerimônia, o intelectual, pré-estabelecido de qualquer modo. Obter do exercício plástico o prazer sensorial e tátil antes de qualquer coisa, onde cada obra possa realizar, continuamente, a síntese do momento presente.
Sonia Malabar